terça-feira, 26 de maio de 2009

Quem é aqui

Prof.Dr. Ricardo Ferreira Bento

Médico Otorrinolaringologista Professor Titular de Otorrinolaringologia da FMUSP. Atual Chefe do Departamento de Otorrinolaringologia e Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Chefe do grupo de Otologia e Coordenador do grupo de Implante coclear É um dos pioneiros do implante coclear no Brasil e o primeiro e único brasileiro a realizar o implante de tronco cerebral.

Tem supervisionado diretamente o atendimento e a cirurgia de todos os pacientes nesses 18 anos de atividade do grupo, mantendo a excelência no tratamento de cada paciente.

Mensagem enviada no dia 21 de maio de 2009:

Prezada Ana Maria,

A reportagem sobre implante coclear apresentada nesta semana contou com manifestações impróprias por parte do Dr. Ricardo Bento a respeito dos surdos. Enquanto professora e pesquisadora da língua brasileira de sinais gostaria de tecer considerações sobre as palavras do doutor, que com certeza, desconhece a comunidade surda brasileira. As referências relativas à surdez associadas à incapacidade não procedem, pois a capacidade humana não está associada exclusivamente à audição e à fala. Os surdos brasileiros estão espalhados nos estados do país e formam a comunidade surda brasileira. Esses surdos usam a língua brasileira de sinais, reconhecida oficalmente por meio da Lei de Libras 10.436. É uma língua que apresenta todas as propriedades de quaisquer outras línguas humanas, ou seja, por meio dela é possível falar sobre quaisquer assuntos (desde o mais trivial até o mais acadêmico e técnico). Essa língua é apenas uma das manifestações sociais e culturais desse grupo, pois os surdos apresentam manifestações culturais marcantes, além de produções intelectuais que tem mostrado para o país e para o mundo, as formas de produção dos próprios surdos. De 2003 a 2008, somente na Universidade Federal de Santa Catarina, tivemos um total de cinco teses de doutorado na área da educação de surdos e língua de sinais brasileira defendidas (das quais, três por doutores surdos) e 14 dissertações de mestrado (dos quais, cinco foram alunos surdos) nas áreas de Educação e Lingüística. Atualmente, temos em curso um doutorando surdo e cinco mestrandos surdos no Programa de Pós-Graduação em Lingüística, um mestrando surdo no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução e um mestrando surdo no Programa de Pós-Graduação em Educação, além de 900 alunos surdos no nível superior. A UFSC também conta com dois professores surdos concursados que fazem parte do quadro efetivo dos professores doutores da universidade. Veja que somente com os números da nossa universidade (não estou elencando as demais universidades do país), temos muitos surdos que estão se formando e produzindo pesquisas no Brasil. Aqui estou indicando os números relativos a produção acadêmcia no país que por si só é restrito, mas é claro que os surdos são produtivos em diferentes áreas de atuação. Portanto, as palavras do Dr. Ricardo Bento precisam ser revistas e o programa MAIS VOCÊ precisará recolocar publicamente as informações equivocadas e preconceituosas manifestadas por ele no programa, uma vez que os pais de surdos, os profissionais que trabalham na área e os próprios surdos sentiram-se ofendidos. A retratação por parte do programa é imprescindível dada a sua audiência e repercussões que apresentam nas vidas das pessoas brasileiras. Contando com o compromisso que o programa tem perante os cidadãos brasileiros, acreditamos que isso será feito.

Caso seja necessário, coloco-me a disposição do programa.

Atenciosamente,

Ronice Müller de Quadros

Universidade Federal de Santa Catarina

Campus Universitário – Trindade

Centro de Comunicação e Expressão – Prédio A – sala 137

Florianópolis/SC/Brasil - 88040-900

Tel/FAX: (48)3721-6586

Celular: (48)9981-2711


Prezada Equipe do Programa MAIS VOCÊ

Prezada Ana Maria Braga e Ricardo Bento (rbento@gmail.com)

Em seu programa matinal MAIS VOCÊ, no dia 19/05/2009 em entrevista com o doutor otorrinolaringologi sr. Ricardo Bento, foram mencionadas algumas frases que nos chocaram veemente, vindas de um médico que não teria noção de que a soltar uma má palavra ferindo os outros como uma espada. As palavras não são uma seta, mas ferem! Assim como você feriu mais 5 milhões de surdos do Brasil.

Não teria imaginação sobre estas palavras, já que é valiosa demais para gerar consequência desagradáveis para nós, e também para você, lógico.

Apresento uma surdez profunda desde nascença, sou graduado em Bacharel de Ciência da computação em Porto Alegre e empregado no Terra Networks já faz mais que 1 ano. Tenho uma vida normal, família grande, esposa e uma filha. Além disso, sou um atleta profissional na qual representei a seleção brasileira durante 10 anos, e ainda mais irei para Taiwan neste ano, numa olimpíadas de surdos. Sou uma pária da sociedade? Nem tenho capacidade de estudar? Não tenho capacidade de trabalhar? Uma coisa INTERESSANTE: Se sou "pária" da sociedade, porque eu pago imposto? Deveria isentar, não acha Bento? A resposta é simples: Tudo é POSSÍVEL, vinculando com a educação que é TUDO! Já que o doutor soltou estas palavras "afiadas" ferindo milhões, milhões surdos do Brasil, reparei que não apresenta um bom conhecimento da comunidade surda, e provavelmente nem tem conhecimentos em outras ocasiões. Vou lhe dar um famoso provérbio sobre a idiotice: "Vamos agradecer aos idiotas. Não fosse por eles não faríamos tanto sucesso." Gerou uma polêmica IMENSA derramando bilhões litros de sangue inocente de uma forma injusta e de mau caráter. É uma coisa triste!

É uma pena que você tenha dito isso, e assim, reparei que a sua experiência é mínima. E tá precisando explorar experiência dos outros. Bom, fui ao congresso mundial de surdos, na espanha, em Madri, em 2007. Teve uma palestra sobre Implante Coclear. Um americano ouvinte, não lembro se é doutor ou filósofo ou otorrinco ou presidente ou blá blá, MAS sei que é um SÁBIO! O burro nunca aprende, o inteligente aprende com sua própria experiência e o sábio aprende com a experiência dos outros assim como ele aprendeu muito com a experiência dos outros, respeitando o outro lado do mundo, muito querido e especial. Ele disse que o implante coclear fará efeito para aqueles que tem perda parcial, perda de audição ao longo do tempo, não para aqueles com a surdez profunda. Nem vai igualar o convívio comunicativo como os outros. E admitiu que apresenta uns recursos bons MAS tem algumas desvantagens, não pode pensar que será IGUAL ao ouvinte. Falou que a comunidade surda é uma coisa maravilhosa e linda, apresentando uma cultura diferente, língua própria, e apresenta o mesmo convívio social que os outros. A comunidade surda tem que ser respeitada. Relatou a importância de não ser radicais quanto ao implante. Já que ao redor do mundo, existe um grupo furioso contra implante. Não lembro onde, talvez na Espanha. Pois este grupo é dos surdos com a surdez profunda. Deveria analisar os efeitos do implante, não para obter dinheiro. O poder corrompe.

"A experiência é um trofeu composto de todas as armas que nos feriram."

(provérbio)

Resumindo, eu respeito os surdos que fazem implante, vai depender da decisão deles mas você deveria ser cauteloso com as palavras que são valiosas. Deveria conhecer mais a respeito da comunidade surda. Já que a LIBRAS foi oficializada pela LEI, que é complexa, com todas as funções linguísticas assim como as linguas orais. Não respeitar a história, a identidade, língua e ,principalmente, a cultura dos Surdos é ser preconceituoso, falta de informação, ignorante e arrogante. Tem que pensar antes de "soltar a bomba".

Mais uma vez, Bento, Seja cauteloso! Não importo que tem um currículo "imensamente ADMIRÁVEL", tem que conhecer as outras culturas sem agir desta forma! .

Alexandre Couto – (Surdo) Tecnologia de Acesso - Terra Brasil Terra Networks Brasil S/A (geloadc@hotmail.com)

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